Cicloturismo no Vale do Paraíba e Serra da Bocaina, uma aventura no rural e na natureza !
DO VALE DO PARAÍBA PARA SERRA DA BOCAINA, AÍ VAMOS NÓS!!
Todos os anos faço uma viagem de bike pela região do triângulo entre Minas, Rio e São Paulo. Quem conhece, sabe: é muito morro! Mas é isso que torna tudo mais especial. Sem pressa, nos rendemos à contemplação, centímetro por centímetro. E a melhor parte é que, entre cada montanha, cada morro, há um povoado, uma cidade pequenina, uma diversidade enorme e muita riqueza cultural.
Sempre é uma surpresa, mesmo estudando o trajeto, nunca sabemos o suficiente para evitar sermos surpreendidas pelo que cada canto tem a oferecer. O tempo muda, as cores mudam, a natureza muda de forma. As festas, cada uma com seu santo e sua fé, mas no geral, tudo é alegria!
Nesta época do ano, as cidades do interior, especialmente no Vale do Paraíba, Mantiqueira e Bocaina, estão repletas de festas. É uma alegria encontrar as igrejas enfeitadas, os palcos montados e as violas afinadas! Tem congada, tem Divino, tem São José fora de época, festival de inverno, festa julina, Festa de São Roque, Arraial do Chipulpul, tudo que amo! Comida, fogueira, cachaça, queijo, doce, música… até pau de sebo!
E nesta toada seguimos com fé, poeira, bandeirolas e cachaça, ué!!
De bike no ombro e mala na mão.

Então, vou começar a contar de onde parti. De Itanhaém para o Vale do Paraíba, de ônibus, né! Saí de Florianópolis e passei um tempo visitando minha família, que mora no litoral sul de São Paulo, em uma cidade de quase 500 anos. Itanhaém tem obras jesuíticas, traços dos tempos de glamour paulistano e, em outros momentos, quase caiu no esquecimento. Mas com seu charme e memórias, ganha vida pela persistência do povo, da cultura e da arte, que nos lembram que temos uma história.
De lá, parti com a bike na sacola da @arestaequipamentos. Desta vez, usei outro recurso para carregar todo o peso: levei uma mala de rodinhas com meu bikepacking preso ao carrinho. Já que também aproveitei para trabalhar um pouquinho, tive que levar mais coisas do que normalmente carrego.
De Itanhaém, fui para São Paulo capital, Jabaquara, depois para o terminal Tietê, onde peguei o ônibus da Pássaro Marrom para Taubaté. Aliás, a Pássaro Marrom vai ser mencionada várias vezes neste relato. E por quê? Sigam lendo que já conto!
Dia 1: De Taubaté para São Luiz do Paraitinga – Percurso 55,50 km com 796 m de elevação

Visitas aqui e acolá, uma festinha aqui e acolá, e chegou a hora de encontrar as amigas que seguiriam comigo. Normalmente vou com a Ana Laura, mas dessa vez se juntaram a nós a @nathachi_aventureira e a @alketa_sofia_
Montei a bike e escolhi bem a bagagem para seguir leve, já que iríamos dormir em pousadas ou em casa de amigos. Como o inverno é rigoroso na Mantiqueira, levei roupa a mais que nem precisei usar, pois estava um calor danado! O restante deixei na casa do amigo para quando retornasse , trabalhar na cidade.
Para o trecho, nutridas e animadas!

Encontrei a Nathachi que agora mora em Taubaté, próximo ao hotel fazenda Mazzaropi. Aliás é uma baita experiência conhecer o acervo do Amâncio Mazzaropi: equipamentos, cenários, trajes e tudo mais de seus filmes, que estão neste hotel. Não deixem de conhecer! Desta vez, não entramos, mas já conheço muito bem de outras épocas quando morei no Vale!
Seguimos para São Luiz do Paraitinga pela estrada Municipal dos Remédios. Foram 55,50 km com 796 m de elevação, quase todo o percurso em estrada de terra. Mas já digo que nesse trajeto tem uma parte, literalmente uma pedreira, com cerca de 3 km de subida e 250 m de elevação. Sobe, sobe!
Ah, mas antes aconteceu algo muito inusitado e especial. Passamos por um bairro com um campinho de futebol, e a Nathachi percebeu que já havia estado ali quando visitou a Carol Emboava. De repente, bingo! Estávamos a alguns metros da casa dela.
Claro que paramos na frente e chamamos. Para nossa sorte, ela saiu toda sorridente, recém-acordada, e nos recebeu com um abração delicioso! Não vou falar muito sobre ela porque tem muita coisa e não caberia aqui. Então vou indicar onde conhecer essa mulher forte, doce e cheia de talentos: @giramerica, @ferme.queijariavegetal, @carol.emboava.
Depois de um delicioso café e uma prosa pra lá de especial, nos despedimos revigoradas para enfrentar a tal pedreira.

Voltando à ordem das coisas: subimos empurrando, descemos voando, fizemos paradas para hidratar e comer algo. Fomos dar um salve para as duas amigas destemidas que seguiriam conosco e ainda estavam trabalhando na @akarui_org. Abraços e euforia da Sophia, que faria sua primeira grande viagem para cima! Kkk.
Enquanto elas terminavam o expediente, fomos em direção ao centro de São Luiz do Paraitinga e lá estávamos nós, matando um pratão de comida boa, saudável e barata! Interior tem dessas coisas!

Fotos, passeios, uma geralzinha na bike, que apresentou um probleminha. Isso às vezes acontece nesse monta e desmonta, mas tudo ok: o Robson Bikes, que tem uma oficina na cidade, deu aquele jeitinho!
Bora pra casinha da Ana, jantar, arrumar as tralhas para sair cedo rumo a Lagoinha e Cunha!
Dia 2: De São Luiz do Paraitinga para Cunha, passando por Lagoinha – Percurso 57,70 km com 1.188 m de elevação.

Desta vez, por estrada de asfalto, mas com uma paisagem bela para distrair!
Seguimos com a Ana, Nathachi e se juntou a nós um amigo da Colômbia, apenas para aquele trecho até Cunha. Paramos em Lagoinha para comer e ver amigas, e mandei um pão na chapa com requeijão de prato que estava um sonho!! Eu passo todos os meus dias comendo o que é local, e o requeijão de prato é uma especialidade da roça, só naquele trecho entre Lagoinha, São Luiz do Paraitinga e Cunha! Um patrimônio cultural saboroso!

Em Lagoinha, os festejos eram do Divino Espírito Santo. Festa grande, gente vem de tudo que é canto! Antes da festa começar, seguimos, porque senão dava ruim, gostamos de uma bagunça! Era só o começo da viagem, melhor picar a mula (nossa, outro termo esquisito do passado!). “Pernas pra que te quero”!! Melhor, né?

De Lagoinha para Cunha, pelas roças da vida! Mudamos o trajeto por sugestão de um ciclista local que encontramos na praça e seguimos para Cunha pelo linhão, um belo trecho de estrada de terra. Vacas no caminho, flores vermelhas, roça, vendas, e claro, paramos numa delas para abastecer e dar uma dançadinha, já que o rádio tocava uma moda das boas!
Avistamos Cunha lá do alto e fomos para a casa da Sophia, que nos esperava com um estrogonofe de palmito delicioso. Na verdade, ela fez correndo porque não esperava que chegássemos tão rápido!
Comemos, bebericamos, Ana tocou violão com músicas de um velho caderno de Botucatu, e um casal de amigos, Nadia e Alejandro, prepararam um delicioso jantar. Ajeitamos as coisas e, no dia seguinte, saímos cedo para o centro de Cunha, que estava toda enfeitada para o festival de inverno e festas religiosas.
Dia 3 – De Cunha para a comunidade de Macacos, passando por Campos Novos de Cunha – 50 km com 1.550 m de elevação.

Friozinho gostoso, seguimos para o centro de Cunha, que encontramos toda enfeitada, linda, com gente da roça com suas características genuínas e gente da cidade, tudo misturado na maior paz e leveza. Aliás, esse povo do interior é um festival de gentileza que nos emociona!

Passadinha no mercado para sofrer porque não poderíamos comprar nada que pudesse pesar, apenas o que íamos ingerir. Passeamos na praça e seguimos para Campos Novos por estrada de asfalto, mas sem carros, e cada vez mais alto íamos e a fome apertando.
Ao chegar na comunidade almoçamos um pratão daqueles e tiramos uma soneca no campo de futebol, enquanto as crianças empinavam pipas no gramado.
Descansadas seguimos então para a comunidade de Macacos, e quem nos recebeu foi um amigo da Sophia, um queridão, @tiagovaz, que nos deu pouso em cima de sua lanchonete, onde comemos o melhor e mais robusto pastel que já vimos @purodocampo.
bn
Claro que já fui para o bar tomar uma cervejinha gelada. A tal da cenourinha na frente da bike para entusiasmar nos desafios!! E a Nathachi me acompanhou.
Soubemos pela amiga que fazia os pastéis que haveria uma festa julina na igreja e que seríamos bem-vindas. Gente! Tudo de graça! Chocolate quente, algodão doce, pipoca, sopa… uma baita fogueira, pau de sebo e uma banda muito boa usando um caminhão como palco! E lá estávamos nós, fazendo dancinhas esquisitas pra virar assunto! Pra isso que bebo! E sempre tem uma amiga palhaça pra animar!! Né, Ana?
Dia 4 – De Macacos/Cunha para Serra da Bocaina – 37 km com 1405 m de elevação

Os campos cobertos de geada e aquele fumacê saindo da boca! Tomamos um café gostoso na simples padaria da vila, onde encontramos umas pessoas bem abastadas, gringos, que soubemos estarem construindo belas casas no topo de alguma daquelas vistas incríveis da Serra da Bocaina e com águas cristalinas.
Macacos que me mordam!! (esta também é meio esquisita!!)

A partir daquela localidade, o cenário começa a mudar, a paisagem ficando cada vez mais ampla, subimos muito. Começam a surgir mais araucárias e, ao longe, o Pico dos Marins, majestoso, aparecendo com seu topo entre as nuvens que cobriam seus pés. Lá estava a Serra da Mantiqueira, verde destacada no céu tão azul que parecia uma tela pintada.
Paramos na casa da Sra. Tereza, afinal, sem pressa, já que subiríamos um paredão de 10 km só de subida, repito, só de subida!! Tínhamos tempo para contemplar. De cima, a Pedra da Macela ficava cada vez mais bela, também se destacando entre as nuvens. Que espetáculo!

Este dia foi muito difícil, resiliência o quê? A turma já querendo mandar um “porra, outra subida???”
Mas quando aparece uma cachoeira no caminho, tudo se acalma e começamos a relaxar. A louca da Ana se jogou sem pensar nas águas de uma delas, e estava trincando, tipo de queimar o corpo. Percebo que estou ficando mais covarde, mas enfim, em pleno inverno, se jogar nas águas da Bocaina não é pra qualquer um.


Chegamos a 1836 m, o ponto mais alto da Serra da Bocaina, passamos por uma bela igrejinha branca e uma região com pedras enormes dentro de uma APA. Já começamos a avistar algumas casas antigas, mas bem conservadas, que indicavam que estávamos próximos a pousadas no entorno do Parque. As energias estavam se esvaindo, quando finalmente alcançamos a pousada @serradabocainaecolodge, animadas com a noite que nos revelaria uma bela lua cheia.

No dia seguinte, depois de um delicioso café, arrumamos os alforjes e o bikepacking e seguimos para conhecer a deslumbrante cachoeira de Santo Isidro. Neste dia, a corajosa foi a Nathachi, que ficou na água fazendo imersão no gelo líquido! Crioterapia!! Kkk
Eu estava focada era na festa que estava acontecendo em São José do Barreiro, comidinhas de roça e tomar muitas cervejas geladas!
Fomos muito bem recebidas pela Márcia, a gerente, cozinheira, recepcionista e ciclista. Ela já nos convidou a tomar um café que já estava servido aos hóspedes, e claro, aproveitamos para “forrar o bucho” kkkk (estou insuportável!). Fomos ao banho para nos prepararmos para a noite de sopas já reservada na pousada.
Na sala ao lado do restaurante, hóspedes que faziam caminhadas naquele final de semana estavam tocando violão e cantando, e nos juntamos a eles. Um ótimo violeiro sempre é um presente. Cantamos, fomos ver a lua nascer, jantamos as deliciosas sopas e sobremesas, e todas foram cedo para a caminha.
Serra da Bocaina Pousada EcoLodge a São José do Barreiro, festaaaa!
30 km com 514 de elevação, metade só descida

No dia seguinte, depois de um delicioso café, arrumamos os alforjes e o bikepacking e seguimos para conhecer a deslumbrante cachoeira de Santo Isidro. Neste dia, a corajosa foi a Nathachi, que ficou na água fazendo imersão no gelo líquido! Crioterapia!! Kkk
Eu estava focada era na festa que estava acontecendo em São José do Barreiro, comidinhas de roça e tomar muitas cervejas geladas!
Por sugestão dos hóspedes que estavam na pousada, antes de descer demos uma paradinha para conhecer a rampa de voo livre e subimos despretensiosamente. Quando chegamos lá, avistamos as nuvens aos nossos pés e o topo da Mantiqueira com todos os seus picos mais altos destacados. Entre as nuvens, conseguíamos ver o relevo de altos e baixos, rios e represas em meio à penumbra das nuvens. Foi mágico! Nos pegou de surpresa!
Deste ponto, seguimos para baixo. Não sei ao certo, mas foram mais de 15 km de descida, somente descida de estrada de terra até chegarmos a São José do Barreiro. Sempre aquela paisagem deslumbrante de nuvens, serras e uma vegetação de muitos tons de verde.
Chegamos na praça, e a festa estava “comendo solta” (ainda bem que este blog não é para gringos kkk). Fomos encontrar nossas anfitriãs e maravilhosas amigas, que receberam toda a trupe em sua casa, na praça, em frente à igreja, bem no meio da festa.
Abraços e dicas de onde almoçar, começamos a relaxar! Comida boa, cerveja gelada e Tim Maia cover no palco! Festas de interior, com família, anjinhos da procissão, aquela turminha local que adora sacolejar na frente do palco, só gente simpática e alegre. Tudo especialmente lindo!
As pernas deram conta de dançar e pular, afinal, Tim Maia é Tim Maia. Pois bem, “cheguei, quero ficar bem à vontade…” E todo o repertório até Santo Rei rolou!! A banda era incrível!

Assistimos à procissão depois, curtimos mais uma bela noite de lua cheia e fomos descansar. Eu ainda fiquei tomando uma cervejinha com a amiga Eli e filosofando “daquele jeito”! ADOROO!
São José do Barreiro, passando a Fazenda Pau D’alho até Areias – 23 km com 328 m de elevação

De manhã, nos despedimos de Eli, Eliana e Kaleo, passamos na frente da Fazenda Pau D’Alho, saindo de São José do Barreiro e seguimos na companhia de uma amiga da cidade que se juntou para nos acompanhar até a represa, e seguimos para Areias. Que cidade mais fofa! Este trecho foi de asfalto, mas com poucos carros.
A paisagem é bem linda. Em Areias almoçamos, avistamos belos casarões, belas igrejas e praças.
Neste dia percorremos apenas 23 km com 328 m de elevação pois finalizaríamos nossa pequena e intensa cicloviagem de mulheres amigas. Passeamos, nos despedimos e ficamos esperando o ônibus para retornar a Guaratinguetá e cada uma seguir o seu caminho!

Modal ônibus e bicicleta, inclusão, liberdade e prosperidade para o cicloturismo!
Agora vem a hora que vou mencionar mais sobre a Pássaro Marrom, empresa de ônibus que opera em grande parte da região da Mantiqueira, Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo. Eles tem até um blog para promover os destinos que atendem.
Eles simplesmente são a maior simpatia com nós ciclistas. Levamos as bikes montadas, e até o motorista vem ajudar a colocar a bicicleta no porta-malas, sem crise, numa boa! Chegávamos ao ponto final e lá está algum funcionário disposto a ajudar. É um sonho, poder pular alguns trechos de rodovia mais movimentada apenas enfiando a bike num ônibus, descer e sair pedalando.

Por exemplo, eu fui de Guaratinguetá a Itajubá, uma baita subida sem acostamento, simplesmente com a bike no porta-malas, e de lá segui para São Bento do Sapucaí pedalando só em estradas rurais, evitando as encrencas no asfalto. Gente!! Sonho com isso em Santa Catarina, onde a maioria das empresas exige empacotar a bike e faz cara feia quando pedimos para colocar a bike em local de maior segurança. Algumas dizem que só levam até duas bikes e embaladas, ou se o ônibus estiver lotado, corremos o risco de não conseguir levar a bike, como se a bicicleta não fosse nossa bagagem.
Enfim! Fica aqui minha simpatia e agradecimento à Pássaro Marrom, que favorece muito o desenvolvimento do cicloturismo nessas regiões . Modal que integra bike e ônibus, visão moderna e sustentável.
Finalizo aqui este conto de nossa pequena e intensa aventura para registrar (um dia terei histórias para mostrar a meus netinhos!! as aventuras da fofó doidona!) e para inspirar, em especial a mulherada que as vezes precisa de um empurrãozinho para “botar pra quebrar” kkk! Prometo que é a última dessas!! kkk

E falando de inspiração o buquê de macelas do campo colhidas a quase 2000 m de altitude vai para a querida Alketa Sofia. Foi a sua maior aventura de MTB . Sua primeira aventura dias seguidos pedalando foi durante o último Ciclofest Rural nos Cânions em junho deste ano. E ela veio com tudo! Foi muito difícil e segurou a bronca, vontade de tacar a bike longe só por uns segundinhos!! Guerreira em tudo o que faz! Valeu Alketa!! Seu astral ajuda a empurrar mesmo as mais experientes!
E é o fim de mais uma e fica o desejo por muitas mais!
Ah!! Faltou contar sobre os dias que fiquei em Maria da Fé e visitei Cristina e Pedralva. Esta parte vai render muitos e novos assuntos!! Acompanhem aqui e em nossas mídias que vou contar em breve!! @triskelbike @ciclofestrural
