POR TRÁS DAS CENAS: A cultura, os engenhos de farinha e a cachaça do sul de SC (1/2)
A Triskel tem como proposta promover o cicloturismo e o ecoturismo com enfoque comunitário. Transitamos e vivenciamos lugares que expressam a beleza natural e cultural de cada trajeto, interagimos com as comunidades com seus sabores e saberes em meio a natureza e aventuras. Por isso, lançaremos um novo roteiro assim que for seguro para conhecer as tradicionais farinhadas nos engenhos de farinha artesanal do litoral sul da costa catarinense. Este roteiro é pensado para que contemple as pessoas que queiram vivenciar pequenas cicloviagens, com os desafios e aprendizagens que a experiência possa oferecer.
Antes de iniciarmos nossa cicloviagem, discutiremos sobre o trajeto que iremos percorrer e seu nível de dificuldade; a forma mais adequada de levar a bagagem; onde iremos pernoitar – em barracas, pousadas ou casa de anfitriões; como serão as refeições; quais locais pararemos para um banho de mar ou cachoeira, para conhecer a gastronomia local; e, por fim, onde poderemos relaxar tomando uma cervejinha ou suco natural. A seguir há o relato do nosso planejamento, realizado entre os dias 12 a 15 de março.
A IMPORTÂNCIA DESTE ROTEIRO
Este roteiro foi pensando para seguirmos o cheiro das fornadas de farinha mandioca artesanal, onde ocorrem as famosas farinhadas!
Sabendo da importância cultural da produção de farinha de mandioca no sul de SC, procurei uma amiga, Gi Miotto, que atua na ONG CEPAGRO, parte da Rede Catarinense dos Engenhos de Farinha, para entender melhor como funcionam as farinhadas.
Segundo ela, os engenhos de farinha são fruto de duas culturas: a indígena, que traz a sabedoria da mandioca e dos seus derivados, e a portuguesa, oriunda da ilha dos Açores, que traz o saber do beneficiamento da mandioca em uma farinha bem fininha. Hoje, a principal característica é a farinha polvilhada. Olhando esse aspecto importante e com grande risco de desaparecimento, as comunidades aderiram ao movimento Slow Food através do programa “Fortaleza Slow Food”, que busca apoiar as comunidades a continuarem os seus saberes e fazeres, além de conectar os engenhos com os consumidores. Recentemente, a Rede Catarinense dos Engenhos de Farinha entrou com um pedido junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para que os saberes dos engenhos de farinha catarinense sejam considerados um Patrimônio Cultural Imaterial, como a capoeira e as baianas do acarajé.
A Gi também nos contou que um recente mapeamento mostrou que muitos dos engenhos tem interesse em desenvolver atividades de turismo de base comunitária. Por que não a Triskel desenvolver alguns deles? A partir daí, Gi nos passou contatos importantes sobre os produtores e nos apresentou a Claudete, uma servidora do turismo do município de Garopaba que nos ajudou a colocar mais tempero nessa aventura.
CICLOVIAGEM DE MAPEAMENTO
Campeche Floripa – Ibiraquera – Imbituba
Entre os dias 12 e 15 de março, eu e a amiga Andresa fizemos o mapeamento desse roteiro e, claro, entrar nuns apuros que fazem parte do descobrimento! Quando iniciamos a cicloviagem, os termômetros marcavam entre 35 e 40 graus. Estávamos com muita dificuldade de pedalar debaixo do sol quente, mas nos distraímos com a paisagem e com o vento, que ora ajudava, ora atrapalhava.
Os engenhos de farinha não estavam em atividade, pois as farinhadas iniciariam somente no mês de maio, depois da colheita da mandioca. Dependendo do local, vão até agosto. Felizmente, no meio do caminho encontramos alguns engenhos que produziam cachaça, melado e açúcar. Visitamos o Engenho da família Heidenreich e seguimos pedalando rumo à Caieira da Barra do Sul. Lá, apanhamos umas seriguelas deliciosas e seguimos pela rodovia, passando por ranchos de pescadores, avistando as fazendas de ostras e os antigos casarões coloridos da cultura açoriana.
Depois, rumamos a Guarda do Embaú de barco. O dia estava um pouco ventoso e com o balançar do barco sentíamos aquele friozinho na barriga que tanto gostamos. Depois de cerca de 50km, finalmente dormimos.
Cedo pela manhã contornamos o rio da Madre, passamos por Paulo Lopes e Gamboa – lugares com belas paisagens e com as maiores altimetrias do roteiro. Tomamos uma cervejinha na Praia do Siriu, comemos peixe fresco, tiramos fotos, caminhamos nas dunas, nos banhamos no rio e comemoramos o níver da parceira de viagem e amiga Andresa.
À tarde, fomos para o Macacu, região rural de Garopaba, onde visitamos o Engenho e Alambique do Vô Zeca e proseamos com Biluca, filho do Vô, que aprontava uma cachaça. Infelizmente não houve tempo para conhecermos a Comunidade Remanescente de Quilombo do Morro Fortunato, mas com certeza iremos na próxima vez. Acampamos no Macacu e fomos na única venda do pequeno povoado para tomar uma cervejinha e comprar a janta – acompanhada por uma cachacinha de butiá do alambique do vô Zeca!
Estes foram nossos primeiros dois dias de viagem para criar o próximo roteiro da Triskel Bike. Os outros dois dias virão no próximo post, fiquem ligados!